No post de hoje vou contar como foi nossa experiência em um retiro de meditação budista em Chiang Mai na Tailândia e dar dicas de como pesquisar e reservar um retiro no país. Também vou falar um pouco sobre o que aprendemos a respeito da meditação e do budismo.
SOBRE O RETIRO DE MEDITAÇÃO EM CHIANG MAI
PORQUE FAZER RETIRO DE MEDITAÇÃO
Pergunta difícil de responder uma vez que a motivação por trás do desejo pela meditação varia de pessoa a pessoa. No meu caso, busco sempre levar uma vida mais leve e a meditação vem ao encontro desse estilo de vida.
Também por isso, fazer um retiro de meditação sempre esteve na nossa lista de desejos para a nossa viagem de 100 dias pela Ásia. Principalmente porque a Tailândia é uma referência tanto para quem pratica meditação quanto em relação ao Budismo.
“Não acredite, experimente” – Buddha
GUIA DE VIAGEM PARA A TAILÂNDIA
O Guia de Viagem do Mapa de Viajante para a Tailândia vai te ajudar a organizar a sua viagem por completo.
O Guia tem mostra de forma detalhada o que fazer nos principais destinos no país, com sugestões de roteiro para diferentes durações. Além disso, o guia dá dicas sobre quando ir, como se comunicar, levar dinheiro, como se deslocar e muito mais!
COMO ESCOLHER O RETIRO DE MEDITAÇÃO NA TAILÂNDIA
A escolha pelo retiro passou pela avaliação de vários critérios. Para o nós, o mais importante era fazer um retiro com monges budistas, para uma experiência mais genuína.
Encontramos algumas opções de retiro voltados mais para o relaxamento, com spa, ioga, piscina e alimentação saudável mas esse não era nosso objetivo.
Por outro lado, nos centros budistas mais tradicionais, encontramos opções de retiros longos, voltados para praticantes mais avançados da meditação.
Nesses retiros mais avançados, além da estadia mais longa (entre 7 e 10 dias) a alimentação segue a dos monges, com café da manhã e almoço apenas.
Além disso, também encontramos alguns retiros com revisões ruins em relação a higiene dos quartos, o que tornou a busca um pouco mais difícil.
COMO FOI A EXPERIÊNCIA COM A MONK CHAT
Encontramos então, em Chiang Mai, um retiro que se encaixava em todos os nossos critérios: O Monk Chat. Localizado ao lado no Wat Suan Dok, dentro da cidade antiga, o Monk Chat oferece uma retiro de 2 dias (sempre às terças e quartas), com transporte, 3 refeições e meditações incluídas.
O valor do retiro foi de 1000 Baht (algo em torno de 30 USD) por pessoa mais 150 Baht pela camiseta branca se você não tiver uma.
Além desse retiro de 2 dias a Monk Chat oferece um curso de 1 dia (gratuito) e retiros de 3 e 4 dias.
RESERVA E CHECK-IN NO RETIRO
É possível reservar online mas a agenda é liberada aos poucos. No nosso caso, como fizemos a viagem no início do ano, só conseguimos reservar com 2 semanas de antecedência.
Depois de se inscrever ainda precisa aguardar a confirmação na lista de registro do site. As orientações gerais são bem simples e objetivas sobre o conteúdo programático e horários.
No nosso caso, fizemos o check-out do AirBnb que estávamos em Chiang Mai e fomos para o escritório do Monk Chat às 13 horas.
Depois de fazer o check-in e pagar pelo curso, iniciamos a uma palestra de Introdução ao Budismo e Meditação. Foram quase 2 horas de explicação do Monge KK que foram suficientes para esclarecer principalmente algumas lacunas que tínhamos desde o início da viagem a respeito do Budismo.
Éramos um grupo de 18 participantes, sendo de 8 nacionalidades diferentes: Brasil (tinha uma família além de nós), Alemanha, Bélgica, Canadá, Lituânia, Espanha, País de Gales, Japão e Estados Unidos.
Dica de Viajante: Se possível, faça o retiro logo que chegar na cidade ou então durante a estadia. Assim você consegue curtir a sensação de relaxamento que a meditação traz. Nós tivemos que ir direto do retiro pro aeroporto pra ir pra Phuket e isso ‘cortou’ um pouco nosso barato.
INTRODUÇÃO AO BUDISMO
Desde a nossa chegada na Ásia e das visitas aos templos na Tailândia e no Laos, tivemos vários questionamentos a respeito dos ensinamentos budistas. Apesar de termos feitos vários passeios guiados (para Ayutthaya e Chiang Rai por exemplo) ainda ficamos com uma série de dúvidas.
Posso dizer que nessas duas horas de introdução ao Budismo e a Meditação nosso instrutor soube resumir e conectar várias das nossas dúvidas.
Ah, deixando bem claro que o conteúdo desse post a partir daqui é baseado na minha compreensão do que foi explicado durante o curso e nos templos. Por favor não considere esse texto como uma verdade absoluta. Caso tenha interesse sobre a meditação e o Budismo, pesquise em outras fontes, leia livros a respeito e pratique.
Se você não quiser se aprofundar muito nesses conceitos agora, ou se não quiser estragar a experiência dessa etapa da introdução aos conceitos, pule os próximos tópicos e vá direto ao tópico sobre o retiro.
BUDISMO É FILOSOFIA OU RELIGIÃO?
Mas afinal, Budismo é uma religião? Essa sempre foi nossa maior dúvida mesmo antes da viagem quando praticávamos meditação Mindfullness. Segundo o Phra KK, o Budismo é um estilo de vida, uma filosofia. Segundo nosso instrutor, o Budismo não é considerado uma religião pois não tem um Deus.
O Buddha original foi um homem de carne e osso, um príncipe na verdade, chamado Sidhartha Gutama, que nasceu 623 anos AC. Segundo consta, o príncipe decidiu conhecer o mundo real fora do palácio depois de se casar e ter um filho e viu a pobreza, doença e miséria que acometia seu próprio reino.
A partir daí, renunciou ao trono aos 29 anos e entre idas e vindas encontrou a iluminação aos 35 anos de idade. Buddha morreu aos 80 anos e seus discípulos continuaram a repassar seus ensinamentos depois disso.
QUAIS ENSINAMENTOS DE BUDDHA
São vários! Entre eles:
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- Aprenda a não fazer mal a você e aos outros
- Aprenda a fazer o bem a você e aos outros
- Aprenda a treinar e purificar a sua mente
Buddha acreditava ser possível alcançar a iluminação, o Nirvana, através do sofrimento. Ou melhor, através do processo do reconhecimento do sofrimento. “The truth” (ou as 4 verdades) se refere aos 4 passos:
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- A verdade da existência do sofrimento
- A verdade da Causa do sofrimento
- A verdade do Fim do sofrimento
- A verdade do caminho para o fim do sofrimento
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Durante seu processo para chegar a iluminação Buddha se deparou com alguns extremos, como por exemplo o jejum exagerado. Por isso, Buddha ensinou a seguir o Caminho do Equilíbrio (The Middle Path) que em tradução literal significa o Caminho do Meio. Ou seja, achar um equilibro para tudo na vida.
“Monkey mind, Monkey Brain”
A referência ao período de jejum do Buddha está ligada diretamente a regra sobre a alimentação dos monges (café da manhã e almoço apenas). Os monges aliás, precisam seguir 227 regras. Algumas delas são inegociáveis, como por exemplo não matar, não roubar e não fazer sexo.
TEMPLOS BUDISTAS
Voltando a discussão Filosofia x Religião, então porque temos tantos templos, estátuas, cânticos, doações e tantos outros dogmas no budismo que se assemelham a uma religião?
Nosso instrutor explicou que esses elementos foram sendo inseridos na cultura de países onde o budismo está presente. Mas disse que Buddha nunca fez referência a criação de templos e estátuas a sua imagem por exemplo.
Na minha opinião pessoal, é impossível não relacionar o Budismo como é hoje a uma religião. Na melhor das hipóteses, podemos dizer que existe a religião Budista e a Filosofia Budista.
De qualquer forma, me parece que o Budismo é uma forma mais original de enxergar a fé das pessoas. Isso porque prega essencialmente a prática do bem como benefício para si e para os outros.
Entretanto, isso não interfere na prática da meditação.
BUDISMO PELO MUNDO
Segundo nosso instrutor Phra KK, existem duas vertentes principais do Budismo na Ásia. No Sudoeste asiático, em países como a Tailândia, Myanmar, Sri Lanka, Camboja, Laos, Banglasedh e sul do Vietnã, se pratica o Budismo mais tradicional (ou Theravadha), com as regras antigas e no idioma Pali (língua falada).
Já no Noroeste da Ásia (China, Coréia do Sul, Japão, Taiwan, Tibet, Butão e Nepal) se praticam variações do Budismo como Mahayana, Hinayana, Bazrayana (essa é a praticada pelo Dalai Lama).
Essas variações do budismo possuem inclusive, Buddha diferentes. O Buddha gordo (ou Buddha Feliz) é uma dessas variações encontradas na China. Nesses países, também se utiliza a língua escrita ou idioma Sanscrito.
INTRODUÇÃO A MEDITAÇÃO
A meditação foi a forma encontrada pelo Buddha para purificar a mente e chegar até a iluminação. Existem várias formas de meditação, sendo uma das principais a meditação por concentração (esse foi o foco da meditação no retiro).
A meditação por concentração pode ser alcançada meditando:
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- Por Contagem da Respiração
- Por Movimento Abdominal
- Caminhando
- Por contagem de rosários
- Através do Mantra (canções)
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Ufa, espero ter passado ileso, sem cometer nenhuma (grande) gafe com os conceitos do Budismo e Meditação. Se por acaso cometi, deixa aí nos comentários pra eu poder pesquisar e corrigir.
COMO FOI O RETIRO
Depois da aula de duas horas, o grupo subiu em 2 red trucks e partimos para o retiro que fica a uns 40 minutos do centro do Monk Chat. A viagem, apesar de apertados no tuktuk, foi tranquila.
É fundamental levar pouca bagagem pois o carro não tem espaço para malas grandes. Nós estávamos com as mochilas e já foi meio apertado levar elas no pé.
“Be mindfulness, be aware”.
A família de brasileiros que estava conosco (alô Hugo) mandou bem e deixou as malas no hotel (mesmo depois do check-out e só levaram o essencial para o retiro. Essa é uma boa opção principalmente se você vai fazer o retiro no inicio ou meio da estadia em Chiang Mai.
Chegando no local fomos surpreendidos novamente. A estrutura superou minha expectativa. Na entrada encontramos a imagem do Buddha tradicional, rodeado por outras imagens do Buddha em diferentes posições.
Do lado esquerdo, duas estupas que depois descobrimos que é o local onde estão as cinzas da mulher que doou o terreno para a construção do retiro. A segunda estupa está reservada para seu marido que ainda está vivo.
Os quartos são amplos e bem limpos (pra duas pessoas) com chuveiro quente. O que pegou pra mim mesmo foi a cama, que é um colchonete. Minha coluna zuada sempre acusa o golpe quando deito em uma cama muito dura ou muito mole. Claro que uma noite só não faz muita diferença mas penso que pra um retiro mais longo eu iria sofrer um pouco.
Ah, os quartos são separados entre homens e mulheres.
O retiro tem uma cantina bem grande onde são servidas as refeições. Do lado externo ainda tem uma área com chá, café, achocolatado e uns biscoitinhos à vontade. Os quartos e a cantina ficam ao redor do centro de Meditação.
Todas as construções são bem amplas, estão em ótimo estado e são rodeadas de árvores e área verde.
O QUE LEVAR PARA O RETIRO
A lista pode mudar dependendo do retiro mas no nosso caso é essencial levar:
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- Toalha pro banho;
- Papel higiênico,
- Itens de banheiro (sabonete, shampoo, escova de dente);
- Chinelo (no final eu já ficava descalço o tempo todo mas dê preferência pro chinelo ao invés de tênis);
- Um casaco (de manhã é bem frio);
Se tiver um jogo de roupas brancas pode levar assim não precisa comprar a camiseta. De qualquer forma eles oferecem uma calça branca emprestada e roupa de cama.
SOBRE AS REFEIÇÕES
Não querendo parecer um esfomeado mas as refeições eram uma preocupação pra mim. Como muitos retiros pregam o jejum e eu já sabia que as refeições eram veganas/vegetarianas, fiquei com receio de passar perrengue, pois sinto fome o tempo todo.
No retiro estava incluída janta (servida por umas 19 horas), café da manhã servido as 7h e o almoço. As refeições eram simples mas muito gostosas e fartas.
No jantar, por exemplo, foi servido Pad Thai vegano (com tofu). Já no café da manhã teve um ensopado de legumes com arroz (tipo uma canja de galinha sem galinha) mas também tinha pão, manteiga e ovo cozido.
Por fim, de almoço foi servido arroz, batata com curry, legumes cozidos e omelete.
SOBRE AS MEDITAÇÕES
Depois de se instalar no quarto, trocamos de roupa e fomos para a primeira sessão de meditação. O monge KK explicou algumas regras para o nosso retiro.
Aqui eu vou ocultar algumas informações para não estragar a experiência de quem for fazer o retiro (já estou contando muita coisa nesse post). Mas basicamente o monge pediu para nos concentrarmos nas atividades, na meditação, em nós mesmos. Para isso, estava proibido usar celular, computador, tablet ou qualquer outro tipo de eletrônico.
Partimos então para a primeira sessão de meditação sentados. Foram cerca de 30 minutos de prática.
Durante o jantar, também fizemos o que eles chamam de “contemplação da comida” que nada mais é do que uma prece feita antes das refeições.
Depois do jantar, fizemos mais algumas sessões de meditação (sentado, caminhando e cantando).
Fomos para o quarto por volta das 21h30 pra acordar no dia seguinte as 5 da manhã. Pra mim não foi difícil, já que o colchonete fininho não me deixou dormir muito durante a noite.
As 5 da manhã o sino tocou, tomamos café e chá, e iniciamos novas atividades de meditação até a hora do café da manhã. Antes do café o Phra KK ainda nos mostrou como é feita a oferta de comida e doações aos monges.
Sempre entre as refeições havia templo livre pra descansar ou praticar por meditação por conta própria. Tudo é feito com calma e com tempo, sem correria. Na parte da manhã seguimos com mais práticas, em grupo e sozinhos, sentados e caminhando.
Depois do almoço foi tivemos uma sessão de duas horas para perguntas e respostas ao monge KK.
As 15 horas do segundo dia retornamos de red truck para Monk Chat e encerramos nosso retiro de meditação.
VALE A PENA FAZER UM RETIRO DE MEDITAÇÃO
Recomendo DEMAIS esse retiro de 2 dias de meditação em Chiang Mai.
Não vou usar termos como ‘transformação’ pois esse tipo de impacto é muito pessoal de cada um. Mas seja você iniciante, praticante esporádico ou até mesmo um entusiasta da prática vai ter uma experiência bem interessante.
A teoria por trás da meditação faz muito mais sentido agora e sai de lá muito mais estimulado a retomar a prática e forma diária.
Espero que tenha gostado do relato sobre o Retiro de Meditação Budista que fizemos em Chiang Mai na Tailândia! Se tiver alguma dúvida pode perguntar aí nos comentários e compartilhar esse post com o coleguinha com que você faria um retiro de meditação!
E não deixe de conferir os outros posts e vídeos no YouTube da nossa viagem de 100 dias pela Ásia!